segunda-feira, 22 de junho de 2015

A Estranha e Divertida Rotina Vampiresca

O elenco principal de What We Do in the Shadows
Filmes de vampiros. Praticamente um gênero (ou sub-gênero) próprio, com suas regras, seus elementos e uma lista de coisas que precisam ser feitas ou mostradas. De tempos em tempos voltam à moda. Um elemento novo (ou revitalizado) se destaca que os mordedores de pescoço voltam a chamar a atenção.

Recentemente, filmes de vampiros tiveram mais um momento na cíclica roda das atenções do cinema. Dessa safra, tivemos coisas bem ruins, que merecem muito serem chamados de “coisas”, tivemos os típicos filmes feitos às pressas, para faturar com a moda, tivemos alguns que podem ser considerados simplesmente dispensáveis e esquecíveis e tivemos outros que tinham até boas ideias, mas acabaram não sendo nada de mais.

Mas, como acontece em todos esses movimentos do cinema, também tivemos filmes incríveis, memoráveis e espetaculares. Logo de cara lembro o genial Amantes Imortais (Only Lovers Left Alive, 2013) e de Byzantium (2012), que ultrapassam alguns limites do gênero (ou subgênero) e, assim como outros grandes filmes de vampiro, aprimoram e expandem esses limites, nos lembrando que boas histórias ainda podem contadas e mostradas a respeito da maldição do sangue e da imortalidade.

Dito isso, é bom salientar que um gênero (ou um subgênero) nunca pode ser verdadeiramente autêntico quando se leva a sério demais. Precisa ter um pouco de humor, senão a coisa acaba caindo pro pretensioso e pro presunçoso, criando uma onda de falsos entendidos no assunto e na profundidade intrínseca da discussão filosófica sobre – Aaaaaaaaaaaaaah!

Deu sono até em mim!

As dificuldades dos vampiros na balada...
Bom, seguindo esta linha de raciocínio, eu sentia falta de bons filmes de vampiro que não se levam muito a sério, que divertem ao mesmo tempo em que abordam o tema. Sentia um pouco de falta de pérolas como A Dança dos Vampiros (The Fearless Vampire Killers, 1967), Amor à Primeira Mordida (Love at First Bite, 1979) e Garotos Perdidos (Lost Boys, 1987). Divertidos e bem feitos, com excelentes momentos e boas piadas, que são lembrados até hoje.

E não é que, em 2014, saiu um filme que tem tudo para se tornar uma dessas novas pérolas? E que me foi muito recomendado pelo grande amigo Daniel Lopes, do excelente site Pipoca e Nanquim (sobre quadrinhos e filmes), lembrando de mim o tempo todo que o via (acho que isso foi um elogio.. não sei dizer).

A comédia What We Do in the Shadows (ainda sem nome em português, mas é algo como “O que fazemos nas sombras”) mostra as filmagens de uma equipe de documentaristas que receberam a autorização (e proteção) para acompanhar a rotina de quatro vampiros que vivem na cidade de Wellington (capital da Nova Zelândia), nos dias atuais.  Com as filmagens, o espectador tem uma visão da comunidade sobrenatural e das dificuldades dessas criaturas nos tempos modernos.

Festinha de aniversário
(sim, eles saem em fotos, o problema é com espelhos...)
Em certos momentos, o filme usa a técnica e estilo do found footage, das filmagens encontradas, as vezes tremidas, sem edição e etc.  Normalmente não gosto desse estilo, que incomoda muito, porque muitos diretores o utilizam como desculpa pra fazer um trabalho preguiçoso. Mas no caso específico de What We Do in the Shadows, é bem utilizado e bem dosado (alternado com filmagens de estilo convencional), servindo para acentuar o insólito de algumas cenas e situações.

O foco da história fica nos três vampiros (tem um quarto, mas ele aparece pouco), diferentes entre si, que brincam com estereótipos clássicos de vampiros, remetendo a Drácula, Lestat e outros… Boa parte da diversão é justamente ser surpreendido por essas piadas e menções.

Achou que só você odiava lavar louça?
Os atores estão absolutamente perfeitos, divertidos e impagáveis em seus papéis, inventando sotaques e termos “vampíricos”, totalmente à vontade na comédia descarada. O roteiro tem piadas inteligentes e diálogos ágeis, que os atores sabem explorar muito bem, com destaque para Jemaine Clement (da série Flight of the Concords) e Jonny Brugh, cujas atuações estão pra lá de inspiradas.

Uma produção americana e neozelandesa que não tem o orçamento que se esperaria de um filme de vampiro, mas é bem mais divertida e interessante que muitos filmes milionários, What We Do in the Shadows é um daqueles casos onde boas ideias e boas atuações foram reunidas numa história simples, sem maiores arroubos de criatividade, mas tudo é tão bem feito, tudo tão bem cuidado e com carisma, que não dá pra deixar de gostar!

E é maravilhoso ver uma comédia que sai do padrão besteirol histérico que parece ser o único considerado como comédia pelos estúdios hollywoodianos. Esse padrão besteirol histérico até é engraçado, mas o problema é quando ele é o único que recebe atenção dos estúdios e da distribuição. Prova disso é que What We Do in the Shadows não foi lançado nos cinemas brasileiros, e temos esperanças que, pelo menos, saia logo em DVD/Blu-ray.

"Vhen you becama a wampyre..."

E para terminar, uma das frases mais marcantes do filme (favor ler com o sotaque mais forçado do mundo): “Quando você se torna um vampiro, você se torna sexy”!

quinta-feira, 11 de junho de 2015

O Último Grande Monstro

Hoje foi anunciada a morte de Christopher Lee, que aconteceu no dia 7 de junho, devido a problemas respiratórios e no coração.
Lee como o Monstro de Frankenstein

O lendário ator, que para muita gente era o Saruman da série O Senhor dos Anéis e o conde Dookan de Guerra nas Estrelas (na trilogia mais recente), teve uma carreira cinematográfica imensa, participando de mais de 280 filmes, na maioria deles, como o vilão da história.
Na segunda metade da década de 50, Lee foi chamado pela Hammer, uma produtora britânica que queria fazer novas versões dos monstros clássicos do terror que tinham feito um enorme sucesso no cinema trinta anos antes, nos filmes da Universal, o grande estúdio cinematográfico de Hollywood.  Para esse “reboot” dos monstros clássicos, a Hammer contratou o jovem e promissor ator de teatro Christopher Lee, que tinha a altura certa para interpretar... o monstro de Frankenstein em A Maldição de Frankenstein (The Curse de Frankenstein, 1957).
Drácula
(nem precisava dizer, né?)

No ano seguinte, Lee faria o papel mais famoso de sua carreira: o Conde Drácula.
Sua interpretação ficaria tão marcada, que por décadas era a mais icônica da cultura popular. Até hoje, para a maioria, quando se fala “Conde Drácula”, a imagem que vem a cabeça é a de Christopher Lee nos filmes da Hammer. Lee emprestou seu rosto e seu olhar aterrador para o conde vampiro em dez filmes (sendo que inicialmente só queria fazer um), onde a história de Drácula foi contada de recontada de formas que Bram Stoker jamais imaginou. A fidelidade com o original nem sempre era a consideração principal dos filmes, mas isso pouco importava para o público, porque Lee estava lá, e ele era o Drácula, não importando o roteiro, então o filme era bom!

O ator que era o vampiro mais famoso dos anos 1950, 1960 e 1970 também interpretou outros monstros (além da criação do doutor Frankenstein); foi a múmia Kharis em A Múmia (The Mummy, 1959), Doutor Jekyll e Senhor Hyde em O Soro Maldito (I, Monster , 1971), o próprio diabo em Katarsis (1963), o assustador Fu Manchu (em quatro filmes) e monge louco Rasputin em Rasputin, o Monge Louco (Rasputin, The Mad Monk, 1966).
Scaramanga, botando medo em James Bond

E também era formidável quando o assunto era vilões mais humanos. Sua atuação como Scaramanga, o antagonista de James Bond em 007 contra o Homem da Pistola de Ouro (The Man with a Golden Gun, 1974) o colocou entre os melhores vilões de 007.

Lee conseguia passar do aristocrata elegante e refinado para o monstro desumano e cruel com uma facilidade impressionante. Apesar de ser facilmente reconhecido, seja pelo seu porte assustador, sua voz grave e profunda ou seu olhar furioso, cada um de seus vilões era diferente e marcante. Por esse motivo ele consegue ser lembrado por muitos como Scaramanga, como Conde Dookan e Saruman, personagens completamente diferentes, mas que agora não conseguimos imaginar com outro ator.
Fu Manchu

Mesmo interpretando monstros, Lee era uma pessoa completamente diferente dos seus papéis. De família nobre (sua mãe era condessa, o que tornava Lee, tecnicamente, um conde), teve uma educação completa de um cavaleiro que se preze. Documentos atestam que ele é um descendente (distante) de Carlos Magno e, durante a Segunda Guerra Mundial, atuou como agente secreto da Inglaterra, sendo condecorado várias vezes por serviços prestados à Coroa.
Rasputin

O grande monstro, o conde Drácula do cinema, era também um homem de artes. Adorava literatura (chegou a conhecer J. R. R. Tolkien pessoalmente), teatro, pintura, escultura, música e tinha jardinagem como seu hobby preferido. Na música, era um fã de heavy metal e chegou a gravar quatro discos!

Nunca parou de trabalhar. Sempre atuando, sempre engrandecendo filmes (que nem sempre eram tão bons assim) com sua presença. Olhava e tratava com um carinho enorme seus fãs, fossem dos filmes de terror antigos, fossem da nova trilogia de Guerra nas Estrelas.
Lee foi um dos maiores monstros do cinema, mas na vida real foi uma das pessoas mais incríveis e inesquecíveis que já existiu. 

O mundo hoje perdeu seu maior vampiro. E todos estão tristes por isso.
Lee e Vincent Price, entre filmagens.
Gosto de lembrar dos dois assim.