sábado, 2 de julho de 2011

Aventuras de RPG que eu adoro: Ravenloft

Minha ideia inicial era fazer listas de assuntos relacionados ao RPG, começando pelas cinco aventuras que eu mais gostei de mestrar, e falando um pouco a respeito de cada uma, citando coisas divertidas que aconteceram e etc.
Mas aí me deparei com dois problemas: primeiro: estava ficando difícil achar apenas cinco, já que tive excelentes experiências com várias aventuras. E segundo: estava me alongando demais nos comentários e explicações de cada aventura.
Então me veio a solução: porque não falar de apenas uma aventura por vez? Como isso me pareceu muito mais interessante, então é exatamente o que vou fazer. Ou melhor, farei uma série de postagens com experiências e opiniões pessoais de algumas aventuras de RPG que mestrei ou joguei ou simplesmente li e achei bacana.
Um aviso; não é segredo algum que eu sou um grande fã do D&D e que ele é o meu cenário/sistema favorito. Então, boa parte das aventuras que comentarei é de D&D, da primeira até a terceira edição, com algumas outras ocasionais publicações do sistema d20.
Conde Strahd, numa belíssima ilustração de Clyde Caldwell
Peço desculpas para quem não conhece RPG e segue o Gabinete, por aquela sensação de “não sei nada do que ele está falando”, mas imagine que são apenas livros ou revistas ou filmes sobre os quais eu estou opinando.

Ravenloft, o terrível castelo assombrado.

Em 1983, o casal Tracy e Laura Hickman escreveu uma aventura bem diferente do que era comum no D&D da época: Ravenloft (o módulo identificado pelo código I6). Sem saber, eles estavam fazendo uma das melhores e mais famosas aventuras do hobby, que já foi mencionada, copiada e parodiada de tudo quanto é forma possível.
Os heróis chegavam à isolada vila de Baróvia e descobrem que estão presos, só podendo sair de lá se derrotassem o terrível senhor do local, o poderoso vampiro Conde Strahd von Zarovich, para isso tendo que invadir seu castelo povoado de inúmeras criaturas terríveis. Para conseguir enfrentar o tal conde, os heróis se consultavam com ciganos (com direito a leitura de cartas), descobriam parte do passado do vilão e resolviam pequenas missões na vila.
E eram justamente esses elementos que diferenciavam Ravenloft das aventuras publicadas anteriormente. A “leitura” de cartas podia mudar praticamente toda a aventura, alterando o lugar onde os jogadores poderiam encontrar itens e artefatos importantes para a luta contra Strahd, e alterava os próprios planos do lorde vampiro. Ou seja, a aventura podia ser jogada várias vezes, sendo diferente em cada sessão.
A fachada nada convidativa do Castelo Ravenloft,
por Ralph  Horsley

Mas o ponto mais interessante era, sem dúvida, a história. Claramente (e assumidamente) inspirada em Drácula (história real e fantasiosa), o Conde Strahd era um antagonista memorável, inteligente, ardiloso, maligno, arrogante, poderoso, cheio de recursos e aliados e, se interpretado e usado corretamente, quase impossível de ser derrotado. Suas únicas vulnerabilidades são trechos do seu passado, que ainda o atormentam e que os heróis podiam usar contra ele. Não era um simples orc, ou dragão ou gigante, que podia ser facilmente derrotado com a combinação certa de magias e espadas.
Apesar de ser uma clara versão de Drácula para o AD&D, Strahd tinha personalidade e carisma (dentro do possível). Não era um simples monte de números e estatísticas, nem um reles dragão que estava lá só pra tentar matar os heróis. Strahd era o personagem principal de sua história, enquanto os jogadores eram apenas… convidados especiais para aquele episódio. 
O módulo I6 foi um dos maiores sucessos da época, o motivou a TSR a lançar uma continuação em 1986, Ravenloft II: The House on Griphon Hill, onde a coisa ficava ainda mais estranha, com Strahd sendo “dividido” em duas versões, uma maligna e outra boazinha, e encontros bem estranhos com inúmeros tipos de mortos-vivos.

A caixa que tornou Ravenloft um cenário completo, com mais
domínios, mapas, imagens dos outros vilões...
Ravenloft, o terrível cenário assombrado! 
Em 1990 foi lançado todo um cenário alicerçado em Ravenloft (que compartilhava seu nome), onde vários reinos (ou melhor, domínios) tinham vilões que eram versões de monstros clássicos do terror, reimaginados dentro de lógica do AD&D. Eles estavam aprisionados em seus reinos, amaldiçoados por sua maldade e por seus atos e condenados a eternamente… enfrentar grupos de heróis que apareciam de tempos em tempos.
Com excelentes aventuras e suplementos, Ravenloft (o cenário) tinha histórias incríveis, que facilmente rivalizavam em qualidade com suas fontes inspiradoras. Além de versões de monstros clássicos, alguns vilões retirados da mitologia do AD&D receberam um espetacular tratamento no cenário, como Harkon Lucas, o manipulador lobo metamorfo, Azalin, o tirânico lich e Jacqueline Renier, a sedutora mulher-rato.

E tudo isso começou com uma simples aventura de se invadir o castelo e destruir o vampiro malvado.

Atualmente o cenário e a linha de produtos foi descontinuada, não antes de ter sua versão para a segunda e terceira edição do D&D. Mas Ravenloft (a aventura) ainda persiste, seja em sua versão pra segunda edição (com o nome House of Strahd), ou para a terceira (Expedition to Castle Ravenloft), ou até mesmo em sua versão como jogo de tabuleiro (chamada apenas Castle Ravenloft).
 
Respectivamente: edição comemorativa, versão para o AD&D 2a edição
 e capa dura para a 3a edição.
Parece que von Zarovich não envelheceu muito bem...
Como mestre e jogador, já presenciei alguns momentos… curiosos dessa aventura, graças à incrível imaginação caótica dos jogadores, ou a sua tremenda falta de sorte:

Momento assustador: o personagem de um dos jogadores, ao entrar em uma cripta, é teleportado para outra cripta, cheia de monstros mortos-vivos que o atacam de imediato. Detalhe, o personagem é teleportado sem seu equipamento e roupas. Em seu lugar, um morto-vivo aparece vestindo as roupas e equipamento do herói desaparecido. Os seus colegas ficam com a impressão que o amigo virou um morto-vivo!

Momento engraçado: um dos jogadores, cujo personagem era um bárbaro incrivelmente poderoso, depois de enfrentar um ataque de mortos-vivos a vila de Baróvia, resolve comemorar e vai a uma casa de meretrício, sem desconfiar que as prostitutas eram vampiras controladas pelo Conde Strahd. Ele voltou na manhã seguinte fraquinho, fraquinho...

"Eles invadem o MEU castelo e eu é que sou o vilão..."
Momento “como assim?”: usando um artefato mágico poderoso de efeitos imprevisíveis, um dos jogadores conseguiu fazer que o vampiro Strahd voltasse vida... como um guerreiro e feiticeiro de poder assombroso (por 24 horas). Toca o Strahd mudar toda sua estratégia pra tentar derrotar os heróis...


6 comentários:

  1. Sempre quis jogar essa aventura. Eu me grupo conseguimos a versão 3E, mas me disseram que é diferente da original e que a original é melhor e tudo mais. É verdade?
    Curti muito o post e vou tentar jogar o mais breve possível.

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  2. A versão para a 3a Edição, a Expedition to Castle Ravenloft é muito bacana, sim. Ela dá muitas ferramentas para o mestre fazer uma excelente aventura (ou campanha ou série de aventuras).
    Vale ter em mente que é uma adaptação, ou seja, alguns elementos estão bem diferentes da aventura original, mas mesmo assim é bem legal e eu recomendo. Mas antes decida se vai ser uma campanha breve ou uma aventura só.

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  3. Ravenloft é um dos melhores cenários de D&D (senão o melhor) e eu fico feliz de não terem o estragado na 4ª edição.

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  4. Gostei do post, Saladino!

    Contribuindo pra sua galeria de pérolas:

    Jogador de ranger elfo antes da aventura começar: - Quer bater no Strahd, cadê ele?

    Jogador do mesmo elfo após quase morrer enfrentando lobos atrozes: - Mestre carniceiro! Socorro!

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  5. Eu adoro Ravenloft, meu canário favorito em D&D, já joguei e narrei um bocado também. Tenho muitas histórias. Se tiver interesse em conhecer algumas delas é só dar o toque que a gente troca figurinhas.

    Felipe Rezende

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  6. Nota ao "Momento Como Assim": Nada que um "Deck of Many Things" não faça... A sua cara foi a melhor!!! Boa aventura, aquela!!! Abraços.

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