terça-feira, 4 de agosto de 2015

Alexandre Callari, o escritor zumbi

Alexandtre Callari, em foto
de homem sério.
Na primeira entrevista exclusiva do Gabinete, temos o prazer imenso de conversar com Alexandre Callari, autor dos livros Apocalipse Zumbi e Apocalipse Zumbi 2: Inferno na Terra. Além disso, Callari é um entusiasta do terror (filmes, quadrinhos, etc.), editor da DC Comics na Editora Panini e ainda faz mais coisas do que o tempo parece permitir.

Além de ser um autor de livros de terror, você tem um currículo bastante… curioso. Pode dizer algumas das outras coisas que Alexandre Callari já fez?
Alexandre Callari: Claro. Atuei em diversos segmentos e sempre busquei me destacar em tudo o que fiz. Fui músico profissional quando era mais jovem e gravei diversos CDs com minha banda, o Delpht, além de ter produzido vários outros, com destaque para William Shakespeare’s Hamlet. Durante anos meu ganha-pão foi ser professor de inglês, mas ao me mudar de São Paulo para Araraquara, abri uma academia de artes marciais, onde dei aulas por quase uma década. De volta a São Paulo, hoje me limito apenas a treinar. Sou editor do site Pipoca e Nanquim, ao lado do Daniel Lopes e do Bruno Zago, tradutor de mais de três dezenas de livros e atuei na área de políticas públicas, quando ainda estava em Araraquara. Também já atuei como produtor de shows, chegando a fazer um megaevento com a banda Charlie Brown Junior. Recentemente ingressei na área do cinema e da televisão, produzindo alguns roteiros e continuo editando quadrinhos e lançando meus livros. Faltou mais um monte de coisas, mas essas foram as principais.

O que fez você escrever um romance sobre zumbis? Porque a escolha específica desse monstro clássico do terror?
AC: Há alguns anos, previ que zumbis explodiriam na cultura pop. Isso foi antes de a série The Walking Dead sair (ela só tinha sido anunciada). Brad Pitt também já tinha manifestado o interesse de produzir Guerra Mundial Z e achei que com esses dois produtos, as coisas iam pegar fogo. E eu estava certo. Ao pesquisar, tentei localizar outros romances de autores brasileiros e não achei nada. Contatei o Gonçalo Junior, autor do Almanaque dos Monstros, e perguntei se ele tinha conhecimento de algum livro assim e ele também afirmou que pesquisara a fundo e nunca encontrara nada escrito por um brasileiro. Cheguei à conclusão de que se havia algum romance antes do meu, era tão insipiente, tão desconhecido, que meu livro primaria pelo caráter do ineditismo. Resolvi levar a proposta à editora Generale, que apostou na ideia. O sucesso do primeiro livro os levou a aprovarem meu plano inicial para uma trilogia.

Dentro da imensa mitologia criada por filmes e livros (e quadrinhos e outras mídias), quais elementos relacionados aos zumbis você acha mais interessantes? Quais você fez questão de usar nos seus livros?
AC: Quis escrever dentro da lógica de epidemias, já que sou grande fã do trabalho de Danny Boyle em Extermínio. Por outro lado, de George Romero, herdei as críticas sociais e a necessidade de jogar as atitudes humanas (e sua periculosidade) no centro da ação. Fugi à necessidade de dar explicações, pois percebi que sempre que elas existem, são frágeis e quebram o encanto – mais uma lição aprendida com Romero. Mas também pensei muito por conta própria e procurei criar minhas ideias. Por exemplo, após estudar sobre epidemias, descobri que embora exista um padrão viral, os organismos afetados costumam se comportar de maneira diferente – era tudo de que precisava para criar variações do vírus, se é que foi mesmo um vírus. Desse modo, pude brincar bastante com conceitos pré-estabelecidos, mas também levar as coisas além.

Quais os filmes, livros e outras fontes que mais influenciaram na concepção ao escrever Apocalipse Zumbi?
AC: Romero e Kirkham são fontes óbvias, no sentido da concepção dos personagens e da evolução que eles sofrem ao longo do tempo. Rec., Madrugada dos Mortos e Extermínio me forneceram os zumbis absolutamente brutais que buscava – rápidos e letais. As opções narrativas não lineares e recheadas de flashbacks – um formato que adoro – vieram de Lost. Acho que no fundo há uma boa colagem de muitas coisas que vi ao longo da vida.

Um dos elementos que mais desperta a curiosidade dos fãs do gênero é quais novidades surgem em cada obra envolvendo zumbis, o que será que vai aparecer de novo no tema. O que você colocou de novo ou diferente nos seus zumbis?
AC: Expliquei isso um pouco mais acima, mas esse é um terreno que preciso ter muito cuidado. Levar zumbis para naves espaciais pode ser uma boa ideia? Para o Velho Oeste? Criar zumbis a partir de possessão demoníaca ou zumbis vindos de outras dimensões funcionará? Em algum momento, alguém teve essas ideias que, teoricamente, feriam o cânone, mas que, por terem sido bem-executadas, acabaram sendo incorporadas a ele. No final das contas, acredito que não existe “isso não pode”, o que existe é uma boa execução de uma ideia. Quando escrevi o primeiro livro, não tinha precedentes em que me basear – apenas o material gringo – então a editora me recomendou cautela. Tive de segurar nas loucuras estapafúrdicas e na violência. Não me entenda mal, ainda é um livro de terror e não estou querendo dizer que fui censurado nem nada assim; mas tive de me segurar um pouco. Com o sucesso do livro, o segundo foi uma esbórnia total e tive a chance de realmente pirar. Embora eu goste do primeiro livro e ele foi o pontapé inicial para este universo, com o segundo a coisa pegou fogo. É lá que estão as ideias mais doentias e bacanas.

Já foram lançados dois livros no mesmo cenário, Apocalipse Zumbi e Apocalipse Zumbi 2. Vai sair um terceiro volume fechando a história? Você pode adiantar alguma coisa desse terceiro livro?
AC: O terceiro volume está quase pronto e fechará a trilogia. Posso adiantar que levei a história numa direção completamente inesperada e que estava nos meus planos desde o começo. De acordo com os próprios fãs, levantei muito as expectativas com o segundo, então só espero cumprir com as expectativas. O terceiro livro sai ainda este ano.

O mesmo Alexandre Callari, numa foto
de homem não tão sério...
Para terminar a postagem, uma excelente notícia: Alexandre fechou contrato com a Darkside Books (pois é, ela mesmo) e ainda este ano deve sair um lançamento dele por essa editora fantástica que tem colaborado muito com a literatura fantástica no Brasil. 

Boa sorte Ale, e parabéns Darkside!

segunda-feira, 22 de junho de 2015

A Estranha e Divertida Rotina Vampiresca

O elenco principal de What We Do in the Shadows
Filmes de vampiros. Praticamente um gênero (ou sub-gênero) próprio, com suas regras, seus elementos e uma lista de coisas que precisam ser feitas ou mostradas. De tempos em tempos voltam à moda. Um elemento novo (ou revitalizado) se destaca que os mordedores de pescoço voltam a chamar a atenção.

Recentemente, filmes de vampiros tiveram mais um momento na cíclica roda das atenções do cinema. Dessa safra, tivemos coisas bem ruins, que merecem muito serem chamados de “coisas”, tivemos os típicos filmes feitos às pressas, para faturar com a moda, tivemos alguns que podem ser considerados simplesmente dispensáveis e esquecíveis e tivemos outros que tinham até boas ideias, mas acabaram não sendo nada de mais.

Mas, como acontece em todos esses movimentos do cinema, também tivemos filmes incríveis, memoráveis e espetaculares. Logo de cara lembro o genial Amantes Imortais (Only Lovers Left Alive, 2013) e de Byzantium (2012), que ultrapassam alguns limites do gênero (ou subgênero) e, assim como outros grandes filmes de vampiro, aprimoram e expandem esses limites, nos lembrando que boas histórias ainda podem contadas e mostradas a respeito da maldição do sangue e da imortalidade.

Dito isso, é bom salientar que um gênero (ou um subgênero) nunca pode ser verdadeiramente autêntico quando se leva a sério demais. Precisa ter um pouco de humor, senão a coisa acaba caindo pro pretensioso e pro presunçoso, criando uma onda de falsos entendidos no assunto e na profundidade intrínseca da discussão filosófica sobre – Aaaaaaaaaaaaaah!

Deu sono até em mim!

As dificuldades dos vampiros na balada...
Bom, seguindo esta linha de raciocínio, eu sentia falta de bons filmes de vampiro que não se levam muito a sério, que divertem ao mesmo tempo em que abordam o tema. Sentia um pouco de falta de pérolas como A Dança dos Vampiros (The Fearless Vampire Killers, 1967), Amor à Primeira Mordida (Love at First Bite, 1979) e Garotos Perdidos (Lost Boys, 1987). Divertidos e bem feitos, com excelentes momentos e boas piadas, que são lembrados até hoje.

E não é que, em 2014, saiu um filme que tem tudo para se tornar uma dessas novas pérolas? E que me foi muito recomendado pelo grande amigo Daniel Lopes, do excelente site Pipoca e Nanquim (sobre quadrinhos e filmes), lembrando de mim o tempo todo que o via (acho que isso foi um elogio.. não sei dizer).

A comédia What We Do in the Shadows (ainda sem nome em português, mas é algo como “O que fazemos nas sombras”) mostra as filmagens de uma equipe de documentaristas que receberam a autorização (e proteção) para acompanhar a rotina de quatro vampiros que vivem na cidade de Wellington (capital da Nova Zelândia), nos dias atuais.  Com as filmagens, o espectador tem uma visão da comunidade sobrenatural e das dificuldades dessas criaturas nos tempos modernos.

Festinha de aniversário
(sim, eles saem em fotos, o problema é com espelhos...)
Em certos momentos, o filme usa a técnica e estilo do found footage, das filmagens encontradas, as vezes tremidas, sem edição e etc.  Normalmente não gosto desse estilo, que incomoda muito, porque muitos diretores o utilizam como desculpa pra fazer um trabalho preguiçoso. Mas no caso específico de What We Do in the Shadows, é bem utilizado e bem dosado (alternado com filmagens de estilo convencional), servindo para acentuar o insólito de algumas cenas e situações.

O foco da história fica nos três vampiros (tem um quarto, mas ele aparece pouco), diferentes entre si, que brincam com estereótipos clássicos de vampiros, remetendo a Drácula, Lestat e outros… Boa parte da diversão é justamente ser surpreendido por essas piadas e menções.

Achou que só você odiava lavar louça?
Os atores estão absolutamente perfeitos, divertidos e impagáveis em seus papéis, inventando sotaques e termos “vampíricos”, totalmente à vontade na comédia descarada. O roteiro tem piadas inteligentes e diálogos ágeis, que os atores sabem explorar muito bem, com destaque para Jemaine Clement (da série Flight of the Concords) e Jonny Brugh, cujas atuações estão pra lá de inspiradas.

Uma produção americana e neozelandesa que não tem o orçamento que se esperaria de um filme de vampiro, mas é bem mais divertida e interessante que muitos filmes milionários, What We Do in the Shadows é um daqueles casos onde boas ideias e boas atuações foram reunidas numa história simples, sem maiores arroubos de criatividade, mas tudo é tão bem feito, tudo tão bem cuidado e com carisma, que não dá pra deixar de gostar!

E é maravilhoso ver uma comédia que sai do padrão besteirol histérico que parece ser o único considerado como comédia pelos estúdios hollywoodianos. Esse padrão besteirol histérico até é engraçado, mas o problema é quando ele é o único que recebe atenção dos estúdios e da distribuição. Prova disso é que What We Do in the Shadows não foi lançado nos cinemas brasileiros, e temos esperanças que, pelo menos, saia logo em DVD/Blu-ray.

"Vhen you becama a wampyre..."

E para terminar, uma das frases mais marcantes do filme (favor ler com o sotaque mais forçado do mundo): “Quando você se torna um vampiro, você se torna sexy”!

quinta-feira, 11 de junho de 2015

O Último Grande Monstro

Hoje foi anunciada a morte de Christopher Lee, que aconteceu no dia 7 de junho, devido a problemas respiratórios e no coração.
Lee como o Monstro de Frankenstein

O lendário ator, que para muita gente era o Saruman da série O Senhor dos Anéis e o conde Dookan de Guerra nas Estrelas (na trilogia mais recente), teve uma carreira cinematográfica imensa, participando de mais de 280 filmes, na maioria deles, como o vilão da história.
Na segunda metade da década de 50, Lee foi chamado pela Hammer, uma produtora britânica que queria fazer novas versões dos monstros clássicos do terror que tinham feito um enorme sucesso no cinema trinta anos antes, nos filmes da Universal, o grande estúdio cinematográfico de Hollywood.  Para esse “reboot” dos monstros clássicos, a Hammer contratou o jovem e promissor ator de teatro Christopher Lee, que tinha a altura certa para interpretar... o monstro de Frankenstein em A Maldição de Frankenstein (The Curse de Frankenstein, 1957).
Drácula
(nem precisava dizer, né?)

No ano seguinte, Lee faria o papel mais famoso de sua carreira: o Conde Drácula.
Sua interpretação ficaria tão marcada, que por décadas era a mais icônica da cultura popular. Até hoje, para a maioria, quando se fala “Conde Drácula”, a imagem que vem a cabeça é a de Christopher Lee nos filmes da Hammer. Lee emprestou seu rosto e seu olhar aterrador para o conde vampiro em dez filmes (sendo que inicialmente só queria fazer um), onde a história de Drácula foi contada de recontada de formas que Bram Stoker jamais imaginou. A fidelidade com o original nem sempre era a consideração principal dos filmes, mas isso pouco importava para o público, porque Lee estava lá, e ele era o Drácula, não importando o roteiro, então o filme era bom!

O ator que era o vampiro mais famoso dos anos 1950, 1960 e 1970 também interpretou outros monstros (além da criação do doutor Frankenstein); foi a múmia Kharis em A Múmia (The Mummy, 1959), Doutor Jekyll e Senhor Hyde em O Soro Maldito (I, Monster , 1971), o próprio diabo em Katarsis (1963), o assustador Fu Manchu (em quatro filmes) e monge louco Rasputin em Rasputin, o Monge Louco (Rasputin, The Mad Monk, 1966).
Scaramanga, botando medo em James Bond

E também era formidável quando o assunto era vilões mais humanos. Sua atuação como Scaramanga, o antagonista de James Bond em 007 contra o Homem da Pistola de Ouro (The Man with a Golden Gun, 1974) o colocou entre os melhores vilões de 007.

Lee conseguia passar do aristocrata elegante e refinado para o monstro desumano e cruel com uma facilidade impressionante. Apesar de ser facilmente reconhecido, seja pelo seu porte assustador, sua voz grave e profunda ou seu olhar furioso, cada um de seus vilões era diferente e marcante. Por esse motivo ele consegue ser lembrado por muitos como Scaramanga, como Conde Dookan e Saruman, personagens completamente diferentes, mas que agora não conseguimos imaginar com outro ator.
Fu Manchu

Mesmo interpretando monstros, Lee era uma pessoa completamente diferente dos seus papéis. De família nobre (sua mãe era condessa, o que tornava Lee, tecnicamente, um conde), teve uma educação completa de um cavaleiro que se preze. Documentos atestam que ele é um descendente (distante) de Carlos Magno e, durante a Segunda Guerra Mundial, atuou como agente secreto da Inglaterra, sendo condecorado várias vezes por serviços prestados à Coroa.
Rasputin

O grande monstro, o conde Drácula do cinema, era também um homem de artes. Adorava literatura (chegou a conhecer J. R. R. Tolkien pessoalmente), teatro, pintura, escultura, música e tinha jardinagem como seu hobby preferido. Na música, era um fã de heavy metal e chegou a gravar quatro discos!

Nunca parou de trabalhar. Sempre atuando, sempre engrandecendo filmes (que nem sempre eram tão bons assim) com sua presença. Olhava e tratava com um carinho enorme seus fãs, fossem dos filmes de terror antigos, fossem da nova trilogia de Guerra nas Estrelas.
Lee foi um dos maiores monstros do cinema, mas na vida real foi uma das pessoas mais incríveis e inesquecíveis que já existiu. 

O mundo hoje perdeu seu maior vampiro. E todos estão tristes por isso.
Lee e Vincent Price, entre filmagens.
Gosto de lembrar dos dois assim.

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Uma Editora do Lado Sombrio

Este blog é um lugar onde eu gosto de falar sobre o gênero terror, especialmente em filmes e livros. Basicamente, sobre os filmes e livros que eu gosto, e assuntos relacionados a eles, aos atores, diretores e algumas divagações pseudo filosóficas e opinativas sobre o gênero.
E, já que a minha linha de publicações é essa, preciso falar sobre a editora DarkSide. Aliás, estou até meio atrasado. A Darkside se apresenta como a primeira editora brasileira dedicada inteiramente ao terror e fantasia. Não sei ao certo se a afirmação é correta, mas uma coisa eu posso dizer, eles começaram muito bem com as suas primeiras publicações, e continuam fazendo um trabalho incrível com os títulos que estão publicando. Livros absolutamente lindos, muito bem cuidados, diagramados, traduzidos, adaptados e com um acabamento (papel, capa, fotos, detalhes) formidável.
Olha só que caixas bacanudas!

Meu primeiro contato com a Darkside foi com o livro  Evil Dead – A Morte do Demônio [Arquivos Mortos], que conta os bastidores e como foi o nascimento do filme A Morte do Demônio (Evil Dead, 1981) e suas continuações, escrito por Bill Warren. O livro é um estudo profundo e muito divertido sobre Sam Raimi, sua formação, seus amigos, o que o levou a filmar Evil Dead e todos os problemas que teve, como eles foram resolvidos, curiosidades etc. Imperdível para quem gosta da franquia Evil Dead. E tudo isso numa edição linda de morrer, lançada em duas versões (classic edition, mais simples e limited edition, em capa dura). Edição deliciosa de se ler, e com um cuidado que só confirma o carinho anunciado da editora pelo gênero. Uma publicação de excelente qualidade voltada para os fãs de terror, o que é uma coisa bem rara.

Verificando o que mais a Darkside tinha para oferecer, tive uma mui grata surpresa, porque além do meu (agora adorado) livro sobre Evil Dead, descobri que eles também tinham publicado um livro semelhante sobre a franquia de filmes O Massacre da Serra Elétrica (Texas Chainsaw Massacre), sobre a franquia de Sexta-Feira 13, o livro Os Goonies (sim, o do filme), biografias de J. R. R. Tolkien, Stephen King, do Black Sabbat (a banda), a trilogia dos Espinhos de Mark Lawrence, dois livros sobre serial-killers escrito pela Ilana Casoy, as histórias originais de Tubarão, Psicose e A Noite dos Mortos-vivos. Isso entre muitos outros lançamentos, alguns que ainda estão para sair.
A Força também está com eles.
Ou seja, praticamente uma lista de livros que eu preciso ter! Uma clara dedicação ao gênero do terror e da fantasia, com um respeito, atenção e cuidado que deve ser aplaudido. Além disso, a Darkside se esforça em levar ao público livros que estavam fora de catálogos fazia um bom tempo (como é o caso de Tubarão, de Peter Blenchey, e Psicose, de Robert Bloch) e novidades que dificilmente teríamos contato. E tem mais, eles investem em autores nacionais, como é o caso de Ilana Casoy  e outros (que vou falar na próxima postagem).

Uma editora cujo trabalho merece ser elogiado e prestigiado por qualquer fã de terror que se preze. Uma iniciativa como esta precisa ser incentivada, pra que cresçam e continuem por muitos anos, mostrando que o terror e a fantasia são gêneros fortes e que devem ser levados a sério.
Então, que tal dar uma checada nas publicações pra lá de sensacionais da editora no site deles (e, é claro, procurar na livraria mais próxima)?
O site da editora é este aqui.


P.S.: Não, eu não recebi nada para elogiar os caras, só gostei bastante dos livros e vou falar mais das publicações e lançamentos deles nas próximas postagens.

domingo, 8 de março de 2015

A Noiva

Apesar de ser publicada no dia seguinte, esta postagem foi escrita no dia 8 de março, o Dia Internacional da Mulher e, como homenagem, ela fala de duas personagens incríveis, uma fictícia e uma real.

A Noiva de Frankenstein

Dr. Frankenstein, a Noiva e o Dr. Pretorius.
Seguindo o sucesso de Frankenstein (1931), o diretor James Whale retomou o tema quatro anos depois, criando uma história onde Mary Shelley imagina uma continuação para os feitos do doutor Henry Frankenstein e sua criação, com o insano doutor conhecendo outro médico dedicado a criar vida, e ambos encontram o monstro feito por Henry, que foi dado como morto no final do filme anterior, e - com um certo incentivo - decidem criar uma parceira para ele. Como qualquer filme envolvendo cientistas que desafiam as leis naturais, tudo dá errado no final.


A Noiva de Frankenstein (1935) é considerada por muitos (inclusive por mim) como um dos melhores filmes da safra de Monstros Clássicos dos Estúdios Universal. Não se contentando em fazer uma reles sequência, Whale aumentou tudo o que pode. O Monstro agora fala (e Karloff deixou os olhares ainda mais assustadores que antes) e tem uma compreensão maior do que ele quer e - no final - do que ele é de verdade. As imagens são mais emblemáticas e vários momentos se tornaram momentos inesquecíveis da Sétima Arte. Para cutucar com vara curta a censura da época, Whale coloca no filme diálogos provocantes, imagens que normalmente não podiam estar presentes em filmes de terror e um dos primeiros personagens homossexuais do cinema (lembre, estamos falando de 1935).

Elsa como Mary Shelley
Mas, se destacando sobre todas as imensas qualidades do filme está a personagem do título, a mulher criada pelos dois médicos loucos: a Noiva. A única mulher entre os Monstros Clássicos da Universal, a Noiva foi um choque para a audiência da época, que esperando uma outra criação horrenda e deformada do Dr. Victor, ficou surpresa e assustada. A Noiva uma criatura absolutamente linda, com um visual marcante e - ao mesmo tempo - imponente e elegante, que ficou marcado na história do cinema como uma das mais incríveis criações do cinema fantástico de todos os tempos. A interpretação de Elsa Lanchester deu a criatura um ar estranho, quase alienígena, expressões exageradas (mas coerentes) e um grito que certamente ecoou por anos nos ouvidos de todos na plateia.

A única mulher entre os Monstros Clássicos da Universal, A Noiva foi a estrela do melhor filme do estúdio, e mesmo sem matar ninguém, entrou para história do terror de forma esplêndida.

Elsa Lanchester

Tão formidável quando a personagem que interpretou, Elsa Lanchester deve ser lembrada por sua vida e carreira. Estudou dança com Isadora Duncan (que ela odiava) e depois passou a se dedicar ao teatro, onde conheceu Charles Laughton, com quem se casou em 1929. Ela trabalhou em vários filmes e peças britânicas e a qualidade de seu trabalho levou Whale a convidá-la para A Noiva de Frankenstein, onde ela fez dois papéis (a escritora Mary Shelley e a Noiva).

 Sua participação em  Mary Poppins
Graças a visibilidade que recebeu em seguida, participou de mais de 40 filmes, incluindo O Fio da Navalha (The Razor's Edge, 1946), O Inspetor Geral (The Inspector General, 1949) e Mary Poppins (1964). Também participou de séries para televisão como I Love Lucy, The Man from U.N.C.L.E. e Night Gallery (Galeira do Terror).


Além de sua carreira, Elsa era uma figura polêmica. Criticando abertamente posturas e atitudes do meio cinematográfico (e de Hollywood em especial), ela era frequentemente ignorada pelos críticos e e "especialista do ramo" da época. Filha de comunistas assumidos e filiados (novamente, lembre que estamos falando de 1935), suas opiniões eram tidas como incômodas e "desagradáveis". Mas nada disso a impediu de ter a vida que queria, como queria. Seu casamento com Charles Laughton era aberto e ambos tinham amantes, com o conhecimento e consentimento um do outro (lembra que eu disse? Estamos falando de 1935). Elsa e Charles permaneceram casados até 1962, quando Laughton morreu. Havia muitos boatos sobre o casal, mas, novamente, eles não impediram que os dois fossem felizes até o final da vida de ambos.

O olhar perturbador e fascinante da Noiva.
Elsa Lanchester era uma mulher pequena (de apenas 1,64 m) e que não tinha a típica beleza que se exigia na época de uma atriz de cinema. Mas ela nem se importou com isso. Usando uma força de personalidade e de atuação ela ignorou os padrões da época e fez o que queria. Ela era uma mulher com um impacto tão grande, que deixou sua marca na história da cinema, mesmo que muita gente não saiba seu nome.

Mas que, com um olhar e um grito, conseguiu ser lembrada para sempre.

domingo, 1 de março de 2015

Restauração no Gabinete!

Bom... não exatamente neste aqui...

Semana passada a BBC noticiou a exibição de uma nova restauração de Das Cabinet des Dr Caligari (O Gabinete do Dr. Caligari, de 1920). O link para a reportagem (em inglês), está no final desta postagem.
Conrad Veidt, interpretando o sonâmbulo Cesare

A restauração foi feita a partir dos negativos do filme, e foi tomado todo um cuidado especial para que o resultado final fosse o mais próximo possível do que as plateias de 1920 viram no cinema. Além de uma qualidade maior da imagem, que permite ver melhor detalhes de cenário e vestuário e das interpretações dos atores (o que por si só já valeria a pena), podemos agora ver que esse filme mudo tem.. cores!

Apesar de ser um filme em preto e branco, o Gabinete era mostrado com partes de sua narrativa com tons de cores, vermelho, azul, amarelo e outras, para dar mais peso à emoção que queria se passar para o espectador. Deste jeito, é possível ver o filme de uma maneira completamente diferente, como é mostrado em comparações e imagens na reportagem da BBC.
Cena da versão restaurada de O Gabinete do Dr. Caligari.

O Gabinete do Dr. Caligari é um dos filmes mudos mais influentes da história do cinema, considerado por muitos como o primeiro verdadeiro filme de terror (ou suspense), e um dos maiores expoentes do Expressionismo Alemão. Muitos recursos e elementos que são comuns hoje em filmes (ou séries) de suspense, terror e crime, apareceram pela primeira vez no cinema em O Gabinete, sendo que um dos mais marcantes foi a reviravolta do final (o chamado plot twist), aquela que deixa a audiência de queixo caído.

Cores assustadoras num filme preto e branco.
É simplesmente fantástico que hoje se consiga ver essa obra incrível da mesma forma que ela foi exibida em 1920. É um pedaço da história do cinema (e dos filmes de terror) que está sendo recuperado e preservado.

Uma excelente notícia para os fãs de cinema e de filmes de terror, e uma boa forma de retomar as publicações neste blog.

Confira aqui a  Restauração de Das Cabinet des Dr. Caligari .

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Uma Situação Crítica


Na minha postagem mais recente (que agora já não é tão recente assim), eu compartilhei um artigo de Vincent Price reclamando do tratamento da crítica para os filmes de terror. Um artigo publicado em 1963, no qual o Rei do Grand Guignol fazia considerações pouco lisonjeiras aos ditos críticos de cinema da época, que  deveriam começar a levar a sério o gênero do terror.

Price era famoso por ser um perfeito cavalheiro (além de suas atuações divertidas), um parâmetro de boa educação e finesse. Era realmente muito raro encontrar momentos onde ele perdia a sua compostura e demonstrasse qualquer sinal de impaciência. Mas, no texto que publiquei, nota-se a insatisfação do ator com a crítica (dita) especializada em cinema. 

Outra coisa que pode-se notar é a impaciência dele com a exaltação dos críticos do “method acting” e os chamados  “method drama”. Este era um sistema de atuação que estava com algum destaque na época, muito influenciado por técnicas e sistemas de atuação de Constantin Stanislavski e Lee Strasberg, onde o ator utiliza um processo de imersão para criar personagens mais realistas. Price era um ator clássico, com raízes shakespearianas, e com um imenso orgulho do seu estilo histriônico, totalmente adequado a grande maioria dos filmes de terror que fazia e era evidente que seria bem contrário ao method acting.

Não que o sistema seja ruim (muito pelo contrário!), mas a questão aqui não é qual estilo de atuação é melhor que o outro ou nada disso. A questão é a preferência de um em detrimento do outro, e quais critérios usados pra isso, por profissionais que (idealmente) não deveriam ter uma preferência pessoal ao exercerem a função que escolheram como seu trabalho, sua profissão.

Olha só como os críticos deixaram o Tio Vinnie...
E o que me deixou relativamente impressionado, é ver que isso acontecia em 1963… e que continua acontecendo hoje, cinquenta anos depois!

Um crítico de cinema deveria ser uma pessoa preparada para avaliar um filme da maneira mais completa possível, para emitir uma análise especializada, embasada, com argumentos e elementos técnicos, que deveria servir de orientação para uma pessoa interessada em saber se o filme vale a pena, ou que quer apenas saber mais a respeito do que vai ver no cinema.

Claro que isso é a teoria. E claro também eu estou me baseando pelo que seria a coisa ideal. Existem cursos de faculdades dedicados especificamente para a crítica de arte, cursos que ensinam como se compreender e analisar arte. Por diversos motivos que levariam o tempo de um… curso de faculdade para explicar, o cinema também entra na categoria da arte, principalmente no que diz respeito a crítica. Ou melhor, deveria entrar (notou que eu estou falando várias vezes “deveria”, né? É de propósito).

Este aqui foi considerado um filme menor...
mas só quando Steven Spielberg não
era famoso e influente em Hollywood.
Hoje a crítica considera um clássico.
Mas, uma das coisas que me irrita bastante quando vejo uma crítica de cinema, é a falta de embasamento para se analisar um filme. Os críticos mais famosos, conhecidos e badalados, raramente fundamentam suas opiniões nos elementos essenciais e necessários de uma crítica, aqueles que deveriam ter aprendido em uma faculdade, ou pelo menos, se interessado em conhecer, aprendendo de alguma outra forma. A grande parte da crítica é baseada simplesmente no gosto pessoal de quem escreve ou, nos casos mais vergonhosos, copiando outras críticas de nomes mais conhecidos da área, seguindo a moda de elogiar ou detestar determinados filmes do momento.

Aí, me vem aquele leitor e me diz “mas Saladino, qual o problema do cara escrever a opinião dele?”, e eu digo que não tem problema nenhum. Quando a pessoa faz isso deixando claro que é o gosto pessoal dele, uma opinião, é algo totalmente diferente de dizer profissionalmente que o filme é bom ou ruim. Note que a palavra-chave aqui é “profissionalmente”. Qualquer um pode dar sua opinião, mas o crítico assumiu o papel de profissional da opinião (um termo bem contraditório, se pararmos pra pensar), abraçando os seus louros. Mas, deveria então, conhecer pelo menos as responsabilidades que também acompanham esse título.

Raramente eu vejo um crítico entender a proposta do filme, avaliar as referências utilizadas, o estilo em questão, os elementos essenciais do gênero e se a execução do filme cumpriu o seu propósito e sua intenção.  Eu vejo isso, mas nos filmes do gênero que o crítico gosta (e faz questão de anunciar publicamente isso), mas não em outros. Sendo bem claro, gêneros como terror, comédia e ficção, são sempre deixados de lado, considerados indignos da grande crítica. Afinal, pra esses críticos, esses gêneros parecem não ser cinema. Se o cara é crítico de cinema, deveria entender e analisar todos os gêneros, ou então dizer que é crítico de cinema de drama, de arte etc.

Já presenciei um crítico dizer que achou um filme fraco porque tinha o estilo “muito videogame”, mas o filme em questão era justamente a adaptação do jogo Silent Hill (que, para quem não sabe É um jogo de videogame) para o cinema! Essa pessoa não se deu ao trabalho de pensar por alguns segundos que o longa deveria ter a mesma estética do jogo? Que deveria remeter ao jogo que o originou? Que era exatamente essa a proposta? Resultado: uma crítica feita com base em gosto pessoal, que não leva em consideração justamente o público para qual o filme foi feito!

Cinquenta anos se passaram e ainda temos muitos, mas muitos problemas quando paramos pra ler as críticas de cinema e com toda a mística que existe ao redor da figura do crítico de cinema. Grandes nomes chegam a ter a cara de pau de mudar sua avaliação, dependendo da mídia (ou canal) onde estão falando e do momento. Por exemplo: um certo crítico famoso, durante os primeiros dias de exibição de O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel fez comentários mornos e cinzentos a respeito do filme, dizendo que era uma aposta ousada e não falando absolutamente nada positivo sobre a obra. Três anos depois, quando a franquia O Senhor dos Anéis já tinha se provado como um sucesso histórico e O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei concorria a ONZE Oscars, o mesmo crítico, durante a entrega dos prêmios, afirmou que sempre tinha torcido pela trilogia, pelo trabalho do diretor, que acompanhava a carreira dele e que todos os Oscars que ganhou era um  reconhecimento merecido.
"Quer dizer que a minha atuação só ficou boa no terceiro filme?"

Como assim???

Para quem fica revoltado com os pseudocríticos que infestam a mídia (impressas, visuais , virtuais etc.) por aí, vale lembrar que esse problema não é de hoje, e que já chegou a acabar com a paciência de gente com Vincent Price. Crítica que, no lançamento, trucidou diversos filmes (como Psicose, Planeta dos Macacos e Veludo Azul) que ela mesma depois reconheceria tempos depois como grandes clássicos importantíssimos na história da Sétima Arte.

Então, sobra para nós algumas atitudes a se tomar. Dar para a crítica (dita) especializada a devida atenção, ou seja, a mesma dada a qualquer pessoa que opina sobre um filme, considerando seus gostos, preferências e etc., tirando-a do pedestal de “grande especialista em cinema”.

Podemos também ignorá-la completamente e conferir os filmes nós mesmos, formando a nossa opinião, comentando e discutindo nossas sensações a respeito, fazendo isso com os amigos, em reuniões, conversas, páginas na internet, redes sociais etc. Tudo isso com educação, claro, lembrando que são gostos diferentes, opiniões diferentes que merecem alguma consideração e reflexão (coisa que muito crítico não faz).

Afinal, não é coincidência que “crítico” seja uma palavra com um significado não muito positivo.

Olha outro que sofreu
nas mãos dos críticos...
P.S.: Antes que alguém me… critique,  eu escrevi este artigo como uma reclamação/desabafo dos pseudocríticos que fazem um grande esforço para se mostrar como seres superiores que entendem cinema de uma forma diferente que nós, reles mortais. E sim, eu sei que existem uns poucos críticos de cinema que são excelentes e não fazem isso. Este artigo não é pra eles.