terça-feira, 4 de agosto de 2015

Alexandre Callari, o escritor zumbi

Alexandtre Callari, em foto
de homem sério.
Na primeira entrevista exclusiva do Gabinete, temos o prazer imenso de conversar com Alexandre Callari, autor dos livros Apocalipse Zumbi e Apocalipse Zumbi 2: Inferno na Terra. Além disso, Callari é um entusiasta do terror (filmes, quadrinhos, etc.), editor da DC Comics na Editora Panini e ainda faz mais coisas do que o tempo parece permitir.

Além de ser um autor de livros de terror, você tem um currículo bastante… curioso. Pode dizer algumas das outras coisas que Alexandre Callari já fez?
Alexandre Callari: Claro. Atuei em diversos segmentos e sempre busquei me destacar em tudo o que fiz. Fui músico profissional quando era mais jovem e gravei diversos CDs com minha banda, o Delpht, além de ter produzido vários outros, com destaque para William Shakespeare’s Hamlet. Durante anos meu ganha-pão foi ser professor de inglês, mas ao me mudar de São Paulo para Araraquara, abri uma academia de artes marciais, onde dei aulas por quase uma década. De volta a São Paulo, hoje me limito apenas a treinar. Sou editor do site Pipoca e Nanquim, ao lado do Daniel Lopes e do Bruno Zago, tradutor de mais de três dezenas de livros e atuei na área de políticas públicas, quando ainda estava em Araraquara. Também já atuei como produtor de shows, chegando a fazer um megaevento com a banda Charlie Brown Junior. Recentemente ingressei na área do cinema e da televisão, produzindo alguns roteiros e continuo editando quadrinhos e lançando meus livros. Faltou mais um monte de coisas, mas essas foram as principais.

O que fez você escrever um romance sobre zumbis? Porque a escolha específica desse monstro clássico do terror?
AC: Há alguns anos, previ que zumbis explodiriam na cultura pop. Isso foi antes de a série The Walking Dead sair (ela só tinha sido anunciada). Brad Pitt também já tinha manifestado o interesse de produzir Guerra Mundial Z e achei que com esses dois produtos, as coisas iam pegar fogo. E eu estava certo. Ao pesquisar, tentei localizar outros romances de autores brasileiros e não achei nada. Contatei o Gonçalo Junior, autor do Almanaque dos Monstros, e perguntei se ele tinha conhecimento de algum livro assim e ele também afirmou que pesquisara a fundo e nunca encontrara nada escrito por um brasileiro. Cheguei à conclusão de que se havia algum romance antes do meu, era tão insipiente, tão desconhecido, que meu livro primaria pelo caráter do ineditismo. Resolvi levar a proposta à editora Generale, que apostou na ideia. O sucesso do primeiro livro os levou a aprovarem meu plano inicial para uma trilogia.

Dentro da imensa mitologia criada por filmes e livros (e quadrinhos e outras mídias), quais elementos relacionados aos zumbis você acha mais interessantes? Quais você fez questão de usar nos seus livros?
AC: Quis escrever dentro da lógica de epidemias, já que sou grande fã do trabalho de Danny Boyle em Extermínio. Por outro lado, de George Romero, herdei as críticas sociais e a necessidade de jogar as atitudes humanas (e sua periculosidade) no centro da ação. Fugi à necessidade de dar explicações, pois percebi que sempre que elas existem, são frágeis e quebram o encanto – mais uma lição aprendida com Romero. Mas também pensei muito por conta própria e procurei criar minhas ideias. Por exemplo, após estudar sobre epidemias, descobri que embora exista um padrão viral, os organismos afetados costumam se comportar de maneira diferente – era tudo de que precisava para criar variações do vírus, se é que foi mesmo um vírus. Desse modo, pude brincar bastante com conceitos pré-estabelecidos, mas também levar as coisas além.

Quais os filmes, livros e outras fontes que mais influenciaram na concepção ao escrever Apocalipse Zumbi?
AC: Romero e Kirkham são fontes óbvias, no sentido da concepção dos personagens e da evolução que eles sofrem ao longo do tempo. Rec., Madrugada dos Mortos e Extermínio me forneceram os zumbis absolutamente brutais que buscava – rápidos e letais. As opções narrativas não lineares e recheadas de flashbacks – um formato que adoro – vieram de Lost. Acho que no fundo há uma boa colagem de muitas coisas que vi ao longo da vida.

Um dos elementos que mais desperta a curiosidade dos fãs do gênero é quais novidades surgem em cada obra envolvendo zumbis, o que será que vai aparecer de novo no tema. O que você colocou de novo ou diferente nos seus zumbis?
AC: Expliquei isso um pouco mais acima, mas esse é um terreno que preciso ter muito cuidado. Levar zumbis para naves espaciais pode ser uma boa ideia? Para o Velho Oeste? Criar zumbis a partir de possessão demoníaca ou zumbis vindos de outras dimensões funcionará? Em algum momento, alguém teve essas ideias que, teoricamente, feriam o cânone, mas que, por terem sido bem-executadas, acabaram sendo incorporadas a ele. No final das contas, acredito que não existe “isso não pode”, o que existe é uma boa execução de uma ideia. Quando escrevi o primeiro livro, não tinha precedentes em que me basear – apenas o material gringo – então a editora me recomendou cautela. Tive de segurar nas loucuras estapafúrdicas e na violência. Não me entenda mal, ainda é um livro de terror e não estou querendo dizer que fui censurado nem nada assim; mas tive de me segurar um pouco. Com o sucesso do livro, o segundo foi uma esbórnia total e tive a chance de realmente pirar. Embora eu goste do primeiro livro e ele foi o pontapé inicial para este universo, com o segundo a coisa pegou fogo. É lá que estão as ideias mais doentias e bacanas.

Já foram lançados dois livros no mesmo cenário, Apocalipse Zumbi e Apocalipse Zumbi 2. Vai sair um terceiro volume fechando a história? Você pode adiantar alguma coisa desse terceiro livro?
AC: O terceiro volume está quase pronto e fechará a trilogia. Posso adiantar que levei a história numa direção completamente inesperada e que estava nos meus planos desde o começo. De acordo com os próprios fãs, levantei muito as expectativas com o segundo, então só espero cumprir com as expectativas. O terceiro livro sai ainda este ano.

O mesmo Alexandre Callari, numa foto
de homem não tão sério...
Para terminar a postagem, uma excelente notícia: Alexandre fechou contrato com a Darkside Books (pois é, ela mesmo) e ainda este ano deve sair um lançamento dele por essa editora fantástica que tem colaborado muito com a literatura fantástica no Brasil. 

Boa sorte Ale, e parabéns Darkside!

Nenhum comentário:

Postar um comentário