Um dia desses, ouvi uma conversa no ônibus
que me fez pensar um pouco. E sim, de vez em quando eu ouço as conversas
alheias no ônibus, a caminho de casa. Podem me considerar um intrometido, mas é
muito bom para qualquer um que escreve, para ajudar a montar personagens.
Considero quase que um trabalho de pesquisa.
Mas, considerações bisbilhoteiras à parte, a conversa me chamou a atenção por um detalhe curioso; eram duas pessoas comentando sobre... livros que tinham lido e como os filmes não eram tão legais, e como eles preferiam os livros. Começaram falando do vindouro filme O Hobbit, de Peter Jackson, e depois desataram a trocar opiniões sobre a trilogia do Senhor dos Anéis e a série Harry Potter.
A partir daí, alguns leitores poderão dizer “E daí? Isso é bem normal, oras...”. Concordo. Mas, naquele instante, comecei a divagar um pouco. Eu meio que estou acostumado a ouvir no ônibus as pessoas comentando o que aconteceu nas novelas, futebol ou programas de televisão que eu não gosto muito. Fico bem feliz ao ver gente (ou melhor, o público) falando de livros, de uma forma legal e descontraída, até mesmo honesta.
O Hobbit... |
Não se tratava de um povo nerd (ou aquelas pessoas que posam de nerds porque agora é descolado), mas gente que não parecia pertencer a nenhuma tribo específica, uma dupla que estava falando de como os livros eram melhores que os filmes, citando detalhes como “tal personagem aparece mais”, “isso fica mais claro” e “no filme ele ficou meio bobo”. Como diria um amigo meu, são praticamente “civis” (termo que eu acho engraçado).
Como jornalista e pretenso escritor, me alegra muito ouvir esse tipo de conversa. Vivemos em um país onde o hábito de se ler livros não é exatamente o mais popular e onde divulgar a literatura é um tanto quanto difícil. Ver (ou melhor, escutar) gente no ônibus comentando como livros são mais legais e melhores que filmes é algo que dá esperança de que, mesmo com todos os problemas que os escritores, autores, editores, editores e similares passam, não estejamos num cenário tão ruim, onde os livros estão sim recebendo alguma atenção.
... e O Hobbit. |
Não critico quem esteja lendo os livros best-seller, como a série Harry Potter ou Jogos Vorazes, não sou um purista que torce o nariz e diz que isso é “literatura menor”. Esses lançamentos servem pra mostrar que livros são legais e divertidos e abrem caminho para outros livros. Isso é tremendamente importante para todos nós, não só autores e pretensos escritores, mas como para os leitores e para o país, pois ajuda na construção de um povo com mais cultura.
Harry Potter, o livro... |
... e Harry Potter, o filme. |
Gosto de cinema, filmes e adaptações. De verdade. Grandes filmes vieram de adaptações de grandes livros (e de alguns livros não tão bons assim). Não estou incentivando uma briguinha entre cinema e literatura, pois entendo que são duas mídias diferentes, com suas características próprias e etc. (sendo que “etc.” aqui significa “detalhes e discussão para uma outra postagem). A questão toda é encontrar gente conversando sobre livros, voluntariamente, fora de uma livraria ou biblioteca ou escola, porque é um assunto que gosta.
Eu fiquei feliz mesmo. E vou ficar ainda mais feliz quando, no futuro, alguém comentar que viu um filme baseado num livro meu, e que achou o livro muito melhor
Meuluv - como sempre fenomenal, cara! Não deixe a gente esperando tanto por seus textos - e olha que eu ainda tenho o privilégio de trocar idéia contigo e conhecer suas histórias, projetos e insights! Que postura bacana e respeitosa com todos os leitores!!! Orgulho desse meu ômi, viu?
ResponderExcluirWell come back, Dr.Saladino (Gabinete não "orna" sem Dr...)
ResponderExcluirAinda há uns dias, estávamos falando, via twitter, sobre a diferença entre o cinema argentino e o brasileiro. A diferença básica está nos roteiros e diálogos. Enfim, na cultura.
A Argentina - outros problemas à parte - tem um dos mais alto índices de livraria/população.
Nós, brasileiros, somos um povo sem o hábito da leitura, para desgraça das novas gerações.
Seus vizinhos de ônibus ainda são a exceção.
Quando se tornarem regra, muitos dos nossos problemas estarão resolvidos.
Não demore tanto para voltar com outra crônica gostosa como essa.
É bom quando vermos as pessoas comentando ou mesmo lendo obras modernas ou clássicas em ônibus, paradas e afins. Me animo com isso. Exceto com quem lê Crepúsculo e Diários de Vampiro, isso me deixa desanimado.
ResponderExcluirTambém gostaria muito de ver adaptações de livros nacionais, como Besouro. Ainda imagino a trilogia de Tormenta nas telinhas. Espero que a literatura brasileira alcance a produção internacional de filmes, neste sentido. Uma produção cinematográfica poderia ser interessante, mas parece não ter recursos ainda para a adaptação de obras grandiosas.
Muito bom o texto! Queria saber me expressar com essa clareza e simplicidade.
ResponderExcluirAcredito que Literatura ainda é uma mídia mais barata que permite soltar a imaginação, descrever e aprofundar, de maneira mais prática, coisas que em filmes, video-games e até mesmo HQs são mais arriscadas de fazer.
Literatura continua existindo tanto para experimentação/criação artística dentro dela, como campo de testes para outras mídias adaptarem depois. Acho que as duas coisas são válidas e há espaço pras duas. Por isso ela se mantém tão viva.
E hoje as pessoas tão aí lendo e discutindo livrões como os do G.R.R Martin, mesmo com a excelente série da HBO na TV...
Falando nisso, quando vamos ler um romance seu Saladino? =) (Só pra constar, seu conto "O Perfil do Escorpião" no Crônicas foi foda pra @#!$%¨&*!)