Alexandtre Callari, em foto de homem sério. |
Além de ser um autor de livros de terror, você tem um currículo bastante… curioso. Pode dizer algumas das outras coisas que Alexandre Callari já fez?
Alexandre
Callari: Claro. Atuei em diversos segmentos e sempre
busquei me destacar em tudo o que fiz. Fui músico profissional quando era mais
jovem e gravei diversos CDs com minha banda, o Delpht, além de ter produzido
vários outros, com destaque para William
Shakespeare’s Hamlet. Durante anos meu ganha-pão foi ser professor de
inglês, mas ao me mudar de São Paulo para Araraquara, abri uma academia de
artes marciais, onde dei aulas por quase uma década. De volta a São Paulo, hoje
me limito apenas a treinar. Sou editor do site Pipoca e Nanquim, ao lado do
Daniel Lopes e do Bruno Zago, tradutor de mais de três dezenas de livros e
atuei na área de políticas públicas, quando ainda estava em Araraquara. Também
já atuei como produtor de shows, chegando a fazer um megaevento com a banda
Charlie Brown Junior. Recentemente ingressei na área do cinema e da televisão,
produzindo alguns roteiros e continuo editando quadrinhos e lançando meus
livros. Faltou mais um monte de coisas, mas essas foram as principais.
O que fez você escrever um romance sobre zumbis?
Porque a escolha específica desse monstro clássico do terror?
AC:
Há alguns anos, previ que zumbis explodiriam na cultura pop. Isso foi antes de
a série The Walking Dead sair (ela só
tinha sido anunciada). Brad Pitt também já tinha manifestado o interesse de
produzir Guerra Mundial Z e achei que
com esses dois produtos, as coisas iam pegar fogo. E eu estava certo. Ao
pesquisar, tentei localizar outros romances de autores brasileiros e não achei
nada. Contatei o Gonçalo Junior, autor do Almanaque
dos Monstros, e perguntei se ele tinha conhecimento de algum livro assim e
ele também afirmou que pesquisara a fundo e nunca encontrara nada escrito por
um brasileiro. Cheguei à conclusão de que se havia algum romance antes do meu,
era tão insipiente, tão desconhecido, que meu livro primaria pelo caráter do
ineditismo. Resolvi levar a proposta à editora Generale, que apostou na ideia.
O sucesso do primeiro livro os levou a aprovarem meu plano inicial para uma
trilogia.
Dentro da imensa mitologia criada por filmes e
livros (e quadrinhos e outras mídias), quais elementos relacionados aos zumbis
você acha mais interessantes? Quais você fez questão de usar nos seus livros?
AC:
Quis escrever dentro da lógica de epidemias, já que sou grande fã do trabalho
de Danny Boyle em Extermínio. Por
outro lado, de George Romero, herdei as críticas sociais e a necessidade de
jogar as atitudes humanas (e sua periculosidade) no centro da ação. Fugi à necessidade
de dar explicações, pois percebi que sempre que elas existem, são frágeis e
quebram o encanto – mais uma lição aprendida com Romero. Mas também pensei
muito por conta própria e procurei criar minhas ideias. Por exemplo, após
estudar sobre epidemias, descobri que embora exista um padrão viral, os
organismos afetados costumam se comportar de maneira diferente – era tudo de
que precisava para criar variações do vírus, se é que foi mesmo um vírus. Desse
modo, pude brincar bastante com conceitos pré-estabelecidos, mas também levar
as coisas além.
Quais os filmes, livros e outras fontes que mais
influenciaram na concepção ao escrever Apocalipse
Zumbi?
AC:
Romero e Kirkham são fontes óbvias, no sentido da concepção dos personagens e
da evolução que eles sofrem ao longo do tempo. Rec., Madrugada dos Mortos e Extermínio
me forneceram os zumbis absolutamente brutais que buscava – rápidos e
letais. As opções narrativas não lineares e recheadas de flashbacks – um formato que adoro – vieram de Lost. Acho que no fundo há uma boa colagem de muitas coisas que vi
ao longo da vida.
Um dos elementos que mais desperta a curiosidade
dos fãs do gênero é quais novidades surgem em cada obra envolvendo zumbis, o
que será que vai aparecer de novo no tema. O que você colocou de novo ou
diferente nos seus zumbis?
AC:
Expliquei isso um pouco mais acima, mas esse é um terreno que preciso ter muito
cuidado. Levar zumbis para naves espaciais pode ser uma boa ideia? Para o Velho
Oeste? Criar zumbis a partir de possessão demoníaca ou zumbis vindos de outras
dimensões funcionará? Em algum momento, alguém teve essas ideias que,
teoricamente, feriam o cânone, mas que, por terem sido bem-executadas, acabaram
sendo incorporadas a ele. No final das contas, acredito que não existe “isso
não pode”, o que existe é uma boa execução de uma ideia. Quando escrevi o
primeiro livro, não tinha precedentes em que me basear – apenas o material
gringo – então a editora me recomendou cautela. Tive de segurar nas loucuras
estapafúrdicas e na violência. Não me entenda mal, ainda é um livro de terror e
não estou querendo dizer que fui censurado nem nada assim; mas tive de me
segurar um pouco. Com o sucesso do livro, o segundo foi uma esbórnia total e
tive a chance de realmente pirar. Embora eu goste do primeiro livro e ele foi o
pontapé inicial para este universo, com o segundo a coisa pegou fogo. É lá que
estão as ideias mais doentias e bacanas.
Já foram lançados dois livros no mesmo cenário,
Apocalipse Zumbi e Apocalipse Zumbi 2. Vai sair um terceiro volume fechando a
história? Você pode adiantar alguma coisa desse terceiro livro?
AC:
O terceiro volume está quase pronto e fechará a trilogia. Posso adiantar que
levei a história numa direção completamente inesperada e que estava nos meus
planos desde o começo. De acordo com os próprios fãs, levantei muito as
expectativas com o segundo, então só espero cumprir com as expectativas. O
terceiro livro sai ainda este ano.
O mesmo Alexandre Callari, numa foto de homem não tão sério... |
Para terminar a postagem, uma excelente notícia: Alexandre fechou contrato com a Darkside Books (pois é, ela mesmo) e ainda este ano deve sair um lançamento dele por essa editora fantástica que tem colaborado muito com a literatura fantástica no Brasil.
Boa sorte Ale, e parabéns Darkside!